quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O mistério da Ilha de Páscoa



Poucas histórias podem ser tão facilmente relacionadas com o presente como a do mistério da Ilha de Páscoa, é também um pouco assustadora, pois sabemos como terminou a história. Na verdade nunca soube da história toda e acho que a maioria não sabe também. Essa história foi contada na primeira aula do mestrado pelo Dr. Andri W. Stahel, que é brasileiro e falou sobre a sustentabilidade e os desafios para alcançá-la.


foto: Artemio Urbina

A Ilha de Páscoa é uma pequena ilha que apesar de pertencer ao Chile esta a milhas e milhas do continente e foi descoberta por navegadores holandeses em um domingo de páscoa; os holandeses quando ali chegaram encontraram uma ilha vulcânica com pouca vegetação e com estatuas gigantes feitas de pedra espalhadas pela ilha, que são conhecidas como Moais. Ao explorar mais a ilha descobriram que não era uma ilha deserta, havia uma pequena população primitiva que morava em cavernas, vivam em pequenos grupos e eram canibais. E a grande questão que os ingleses trouxeram da sua expedição foi como um povo completamente primitivo que não tinha domínio nem sobre a sua alimentação poderia elaborar estatuas com tamanha complexidade como as centenas que se encontravam espalhadas pela ilha.


Durante muitos anos a única explicação “plausível” foi a de que uma raça alienígena mais avançada havia feito essas estatuas. E como se poderia negar... afinal “porque não pode ter sido” não é resposta.

Foto: Donavan Navonod

Com o avanço da tecnologia, foi possível fazer sondagens no solo e descobrir que a ilha nem sempre foi seca, através das amostras de solo, foi possível encontrar pólen, ou seja, a ilha já foi coberta de árvores. Com novos dados nas mãos, novas versões foram criadas e atualmente a mais provável é essa.


A ilha foi habitada por uma população de polinésios que saiam ao mar em busca de novas terras. Eles levavam consigo batatas e galinhas, para caso encontrassem terra terem com que viver. Quando chegaram na ilha foi um sucesso, a batata cresceu que nem chu-chu, e as galinhas se multiplicavam como coelhos. (Esse é um mistério secundário... por que não levar chu-chu e coelho pra garantir comida? Deixa pra lá...) E plantar batata e criar galinha, era muito fácil, o que lhes deixava muito tempo para fazer outras coisas, dançar, pescar, construir casas, inventar rituais, jogar futebol (será?) e porque não... fazer estatuas gigantes de pedra! Esse era o principal hobby dos nativos. E os diversos clãs espalhados pela ilha competiam para ver quem fazia mais e maiores moais, e isso pedia cada vez mais moais.

E como eram feitos esses moais? A pedra da qual eram feitos vinha de um vulcão, que ficava no centro da ilha, e os clãs ficavam espalhados pelo litoral. Ou seja, o trabalho não era apenas fazer o Moai como levá-lo até o clã. Esse transporte era feito rolando a pedra em troncos de árvores por todo o caminho até a aldeia, e uma vez lá era usado um monte de troncos para levantar a pedra. Ai que começa o problema.

É claro que a falta de árvores na ilha de páscoa foi causada pelo excesso de Moais nas aldeias, mas como isso transformou a mais sofisticada civilização polinésia em canibais que vivem em cavernas? A madeira entre outras coisas era usada para construção de moradia, de redes de pesca, canoas, gol pra jogar futebol (será mesmo?), e os frutos complementavam a dieta dos habitantes da ilha.

Mas a grande pergunta é, eles não perceberam que estava acabando a floresta? Óbvio que perceberam, nós nem estivemos lá e percebemos que ia dar nisso! Mas o que foi que eles fizeram? Fizeram um trato entre clãs para que maneirassem nos Moais porque a madeira ta acabando, já existe estátuas suficientes, vamos disputar de outra maneira para ver qual clã é melhor que o outro, uma partida de futebol talvez... NÃO!!! Os habitantes perguntavam aos seus líderes porque estamos ficando sem ter onde morar, porque estamos com fome, porque estamos sem ter como pescar. E os líderes diziam - os deuses não estão satisfeitos conosco, temos que fazer mais moais! Até porque se eles não fossem cortar mais madeira, os vizinhos deles iriam. E olha que eles nem eram inimigos, eram apenas vizinhos! Até chegar uma hora que acabou a madeira, não havia nem sequer uma árvore na ilha. E isso é ilustrado pelos Moais que foram encontrados pelos ingleses, alguns estavam ainda no vulcão, outros estavam no meio do caminho. Chegou um momento em que a indústria dos Moais teve que parar.

Agora eles eram um povo desesperado sem casa, sem frutas do bosque, sem meios de pescar e o pior de tudo... sem canoas! Eles estavam literalmente ilhados, com uma ilha com recursos absolutamente escassos, com fome e cheios de Moais.

Com o tempo a fome fez com que esses povos entrassem em conflito, inicialmente pelas galinhas dos inimigos, tornando o centro da vida deles proteger as galinhas. Inevitavelmente a galinha era pouca assim que acabaram as galinhas. Acabou a galinha, mas... Bom sobrou o inimigo...

E acabou o mistério da Ilha de Páscoa, pelo menos o mistério histórico. Mas e o mistério do homem da Ilha de Páscoa, como uma civilização tão avançada capaz de fazer ídolos enormes de pedras que pesavam toneladas, não foram capazes de parar de alimentar um costume que os estava matando. Mas não atiremos a primeira pedra... Afinal e nós? Quando vamos parar de alimentar costumes que nos matam? Quando vamos repensar o modo de fazer nossos ídolos enormes?

Os habitantes da Ilha de Páscoa nem viram o ponto que a água estava no pescoço, quando estava no peito eles se agarraram a uma pedra e tibum. Nós por outro lado já estamos sentindo a água subir e buscamos soluções com energias limpas ou equipamentos mais eficientes, mas o problema é o ritmo que as coisas andam. E o PROBLEMÃO é que agora não estamos falando só uma ilha...

Eu acho que estamos buscando uma solução.

Acredito que estamos tentando mudar o modo de fazer nossos Moais

Eu sei que as nossas “árvores” estão acabando

E eu tenho certeza que não temos canoas pra fugir.

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